Não escrevo neste blog desde 29 de outubro de 2022. Um dia depois, foi eleito Lula presidente da república, naquela que qualquer ser de pensamento crítico deve reconhecer como a mais importante disputa eleitoral de nossa história. A Democracia e a civilização venceram a barbárie e os arranjos autoritários encarnados em Bolsonaro. Um processo de transição histórico, onde o derrotado não reconhece a derrota e seus asseclas de twitter incentivam milhares de caminhoneiros a fecharem as rodovias Brasil afora.
Apesar de tudo isso, o gabinete de transição foi formalmente estabelecido, contando com a participação de vários agentes políticos, relatórios produzidos e formalidades jurídicas realizadas, como por exemplo, a diplomação dos eleitos por parte do TSE.
Lula e Alckmin tomaram posse em 1 de janeiro de 2023, em cerimônia histórica marcada pelo esquema de segurança exemplar e presença plural de vários segmentos da sociedade brasileira, fato que fica documentado no grupo que passou a faixa presidencial diante da ausência fugitiva de Bolsonaro para os EUA.
Diante de tamanha vitória da Democracia, se deu pouca atenção a um triste detalhe: A presença de acampamentos bolsonaristas mobilizados na frente de quartéis exigindo a tomada do poder por parte das Forças Armadas. Vale ressaltar que tais acampamentos eram organizados do ponto de vista logístico e estrutural, portanto é evidente o financiamento de recursos por parte de agentes ocultos no setor privado.
Muito se foi questionado sobre a manutenção desses núcleos reacionários, e que tipo de atitude deveria ser tomada. O ministro da defesa de Lula José Múcio preferiu optar pela "paciência", alegando que tais acampamentos estavam se esvaziando e que em breve a situação iria se acalmar, mesmo que qualquer ida as redes sociais bolsonaristas já indicavam pública e notoriamente suas reivindicações autoritárias e tramoias golpistas. Essa “paciência” acabou permitindo a mobilização dos setores criminosos e resultou no fatídico 8 de janeiro.
Invadiram e depredaram o coração de nossa república, roubaram um exemplar raríssimo de nossa constituição (felizmente recuperado), destruíram os vidros do palácio do planalto, STF e congresso nacional. Nossas instituições foram violadas, nossa democracia desprezada e a vontade popular tratada como lixo.
Um dia negativo histórico que reproduz o mesmo tipo de movimento ocorrido nos EUA em 6 de janeiro de 2021. Partindo do princípio de que o propósito desses atos era desde sempre protestar contra a legitimidade de Lula, sua posse e governo e exigir ação militar, podemos qualificar como GOLPISTAS. Levando em consideração todo o estrago causado, são considerados TERRORISTAS. Ou seja: CRIMINOSOS de qualquer maneira.
Porém, se a posse de Lula foi tão organizada em termos de segurança, como se permitiu que um contorno golpistas ganhasse tanta magnitude?
Simples, a conivência da Polícia Militar do Distrito Federal possibilitou o início da cena criminosa. Uma imagem explícita e escandalosa de uma viatura militar policial ESCOLTANDO OS GOLPISTAS tomou as redes e jornais.
Esse não foi um caso isolado, foi parte de uma conjuntura maior antecipadamente organizada pelo alto-escalão de segurança do governo estadual do distrito federal, comandado pelo bolsonarista Ibaneis Rocha e contando com a PARTICIPAÇÃO DIRETA do secretário de segurança Anderson Torres, digasse de passagem, ex-ministro da justiça de…Jair Bolsonaro.
Era obrigação institucional das forças de segurança do DF terem ciência da situação e executarem medidas para impedi-la. Infelizmente, o Brasil se deparou com um governo distrital dando suporte a uma tentativa aberta de golpe.
A situação foi colocada sob controle pelo ministro da justiça Flavio Dino e o presidente Lula não tardou corretamente em decretar a intervenção federal no DF, não aceitando o pedido de desculpas de Ibaneis, que demitiu Torres.
Lula retornou no mesmo dia para Brasília na mesma noite (Estava em SP), reuniu a maior parte das lideranças políticas estaduais, nacionais, partidárias, sociais e representantes dos 3 poderes, como ministros do STF. Todos eles fizeram uma histórica caminhada cívica em direção ao STF e avaliando os danos.
Da mesma forma que muito corretamente, o ministro do STF Alexandre de Moraes decretou o afastamento de Ibaneis e dias depois a prisão de Torres (que teve uma minuta golpista encontrada em sua casa, defendendo intervenção golpista no TSE), que se encontra no momento dessa redação a caminho do Brasil. O mais assustador é que os críticos de Moraes atribuem a ele uma postura “justiceira” como se ele tomasse suas decisões por iniciativas individuais. Os que alegam isso estão ou muito mal-informados ou mal-intencionados, ou muito burros ou muito malvados. As decisões de Moraes partem do princípio de ele está apenas acolhendo juridicamente pedidos solicitados por instituições como a Advocacia Geral da União ou figuras políticas, sendo o mais notório caso, o exemplar senador Randolfe Rodrigues. Além disso, todas as decisões do ministro até hoje foram acompanhadas pela maioria do plenário do tribunal, normalmente com a divergência apenas dos 2 indicados de Bolsonaro. Existem mais de 1.500 detentos em alojamentos da PF, com alimentação, acesso a celular, academia e saneamento. Eles reclamam de estarem “sequestrados e torturados”, irônica essa acusação partindo de saudosistas da ditadura militar, seus torturadores e adeptos do lema “bandido bom é bandido morto”. Todos esses golpistas serão submetidos ao devido processo legal e pagarão caro por sua participação nesse atentado. Todas as ações nesse sentido, principalmente as de Moraes, vem sendo exemplares e não existe nenhum abuso presente. Vale lembrar que o ministério da justiça criou um veículo direto na identificação dos marginais: denuncia@mj.gov.br
Do ponto de vista político, é óbvio que isso foi reflexo de 4 anos sob o criminoso Jair Bolsonaro. Produto maior de um complexo cenário de retrocessos nacionais. Quando estávamos sob a tutela de um governo que semanalmente dependia da mentira para manter sua base de apoio presente, que questionava abertamente a confiabilidade de nossas exemplares urnas eletrônicas, que partia para o confronto com outros poderes, pisava nas normas e decoros institucionais e buscava resgatar um passado sombrio da ditadura militar para seus arranjos autoritários. É óbvio que a herança deixada seria essa. Por isso mesmo buscaremos a responsabilização direta do ex-presidente Jair Bolsonaro pelos atos. Não só isso, como rastrearemos os financiadores.
A Democracia e o Estado de Direito vão vencer.
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